Diário de uma mulher em crise

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Na crise,sem crise

Na crise,sem crise

 

Chega um dia em que você percebe que aquelas lembranças gostosas da infância estão mais distantes na memória. E quando se lembra da adolescência, custa a acreditar que teve coragem de ir a certos lugares, usar certas roupas e até de fazer certas coisas.

E de repente, você nota que a casa dos vinte e poucos anos começa a te deixar com saudades, mesmo antes de você ter saído dela. É mais ou menos assim que você percebe que está entrando na crise dos 30, uma época que perturba todas as pessoas, mas que para algumas mulheres pode ser mais delicada, cheia de dúvidas e angústias.

Essa crise, assim como os seus sinais, não avisa quando vai chegar. Pode ser aos 27, aos 29, exatamente aos 30, com 30 e poucos, e até existe quem afirme jamais ter passado por ela, mas o certo é que sorrateiramente ou como uma avalanche, de um jeito ou de outro, ela sempre vem.

No corpo, os primeiros sinais da maturidade são quase sempre inevitáveis. A pele já não tem aquele brilho, aquela viçosidade e nem a mesma textura. As olheiras começam a ficar mais aparentes e, se olhar bem de perto, já é possível ver algumas linhas de expressão surgirem. Quem antes usava um único creme no corpo todo, tende a começar a colecionar diversos potes com finalidades específicas.

A disposição também não é mais a mesma e um convite irrecusável para uma festa com muita música, bebida e diversão já não parece tão atraente quanto uma cama quentinha. Até os joelhos começam a reclamar um pouco quando são muito exigidos naquela corridinha básica pelo parque. E para piorar, ainda tem a balança, que resolve declarar guerra tornando a missão de perder peso ainda mais difícil.

São muitas mudanças, no entanto, as maiores transformações que ocorrem neste período acontecem dentro da cabeça das mulheres. Afinal, já não se pode agir como uma menininha, nem como uma adolescente, mas ao mesmo tempo falta muito para se tornar uma senhora.

Se você ainda não chegou nessa fase, pode estar aterrorizada com o que acaba de ler, mas não existe nenhum motivo para pânico. Exageros à parte, essas mudanças fazem sim parte do processo de amadurecimento feminino, mas transitar entre esses territórios é tão natural quanto completar 20 ou 40 anos. E por mais difícil que possa parecer em um primeiro momento, é totalmente possível enfrentar essa transição sem traumas e acredite, com muito charme.

O estigma dos 30 anos foi eternizado no século XIX pelo escritor francês Honoré de Balzac, que no livro “As mulheres de 30 anos”, destacou pela primeira vez a maturidade feminina na literatura. Foi quando surgiu o popular termo “balzaquiana” para designar as mulheres dessa idade. No livro, o termo fazia referência a uma mulher mal casada, infeliz e submetida ao marido, fato comum para grande parte das mulheres da época. Bem diferente das balzaquianas modernas que vivem em um ritmo frenético.

Ao lutar pela igualdade de direitos, as mulheres ganharam mais liberdade, autonomia, espaço no mercado de trabalho, posição de liderança e reconhecimento, mas suas antigas funções continuaram necessitando delas. Assim, além de profissionais, elas precisam ser boas esposas, mães presentes, donas de casa exemplares, amantes dispostas e tudo isso com sorriso no rosto, corpo malhado, sem deixar de estar por dentro da moda, da tecnologia, e se sobrar um tempinho, do que acontece na novela.

É justamente esse excesso de obrigações e acúmulo de funções que faz com que cada vez mais mulheres entrem na crise dos 30 anos. Não que antigamente ela não existisse, mas isso só acontecia por volta dos 40, quando elas começavam a se sentirem velhas vendo seus filhos saindo de casa. Hoje em dia, algumas mulheres de 30, ainda nem se decidiram se estão prontas para serem mães. Os tempos são outros, as prioridades se inverteram e entre tantas coisas para se fazer fica difícil escolher a qual se dedicar primeiro, o que leva muita gente a priorizar a carreira adiando os planos da maternidade.

E entre esse turbilhão de emoções, eis que os 30 batem à porta trazendo consigo um monte de questionamentos e inseguranças. As solteiras começam a se cobrar por um casamento, as casadas analisam se estão felizes em seus relacionamentos, quem não teve filho entra em uma corrida contra o tempo devido à diminuição dos hormônios e profissionalmente, todas começam a se questionar se estão no caminho certo.

É como se antes dos 30, tudo fosse um ensaio e a partir deles, tudo se tornasse definitivo e nada mais pudesse dar errado, pois já não existem chances de errar na vida pessoal, na amorosa e nem na profissional.

De fato, fazer um balanço pode ser positivo para identificar falhas do passado e até para corrigir erros, mas se sobrecarregar de pressão e cobranças pelo simples fato de ter atingido determinada idade pode desencadear conflitos sérios e até a depressão.

É natural querer ser bem sucedida em todos os âmbitos da vida, e mais natural ainda se sentir frustrada quando não se alcança um objetivo em um período pré-determinado pela sociedade, mas o ideal é enfrentar todas as adversidades com calma e paciência, até porque, um dos vários pontos positivos de ter vivido três décadas é a sabedoria que se adquire e a experiência que nos faz entender que a vida é feita de fases e que todas elas passam naturalmente independente das nossas escolhas.

E já que não tem jeito, a melhor maneira de passar por mais esta fase da vida é encarar a passagem do tempo como mais um sinal de que você precisa aproveitar cada minuto. E não é só isso, ao invés de lutar contra algo imutável, conforme-se, a juventude eterna vendida pelo mercado da beleza não existe, assim como não existe essa necessidade de determinar um prazo para ser feliz.

Entre nos 30 como desfilando toda sua sabedoria e segurança, afinal, as mulheres mais inteligentes aprenderam em algum momento da vida que saber aproveitar o melhor de cada idade é essencial para se sentir feliz todos os dias, sem grilos e sem crises.